Um documento de orientação sobre práticas pedagógicas durante a Páscoa na rede municipal de ensino de Pouso Alegre (MG) virou motivo de polêmica e fomentou um festival de pregação religiosa entre políticos. O debate veio à tona depois que o vereador Israel Russo (União) usou a tribuna da Câmara e as redes sociais para afirmar que “a Secretaria de Educação tenta censurar Cristo da Páscoa” – veja o vídeo abaixo.
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A fala do político se refere a um informativo enviado a diretores, supervisores e professores pelo Departamento Pedagógico com orientações gerais sobre como trabalhar a Páscoa em sala de aula.
No documento, é pedido para que os professores “evitem atividades que façam referência direta a elementos próprios da fé cristã, como a crucificação, a ressurreição ou celebrações litúrgicas”, lembrando que “tais conteúdos pertencem ao âmbito da religiosidade particular e não devem compor o planejamento pedagógico de uma instituição pública de ensino”.
O documento ainda pede que símbolos culturais e lúdicos, como o coelho, os ovos, as cores, as brincadeiras e as narrativas de fantasia, “devem ser desvinculados de mensagens religiosas”, contribuindo para o desenvolvimento da linguagem, da imaginação, da ludicidade e da interação social.
“Mais do que repetir tradições, é fundamental reconhecer as atuais concepções e ressignificar as práticas pedagógicas de acordo às diretrizes curriculares visando à formação cidadã das crianças”, prossegue o documento.
“Qual o sentido dessa aberração?”
Com o documento em riste, o vereador Israel Russo questionou a orientação do departamento pedagógico da Prefeitura durante a sessão da Câmara de Pouso Alegre nesta terça-feira, 15. “Vamos ensinar a Páscoa nas escolas sem falar de Jesus que é o principal fundamento da Páscoa. Qual é o sentido dessa aberração que foi enviada para os professores?”, bradou o parlamentar com gestos e tom de indignação.
Russo é integrante do Movimento Brasil Livre (MBL), grupo que se tornou célebre por adotar estratégias agressivas para ganhar engajamento nas redes sociais a partir de pautas polêmicas. Religião e segurança pública são os temas preferidos do grupo. Não por acaso, esses são exatamente os temas que mais permeiam os primeiros meses de mandato do vereador.
Quem também se insurgiu contra as orientações foi o vereador Leandro Morais (União). “Jesus Cristo está muito acima de religião. Jesus Cristo é o caminho, a vida, ninguém vai ao Pai se não por ele e não há um outro significado na Páscoa a não ser Jesus Cristo”, discursou em tom religioso o parlamentar na tribuna da Câmara para criticar a orientação pedagógica.
Prefeito e secretária se pronunciam
Com a discussão lançada na Câmara e a polêmica ganhando as redes, a Prefeitura se apressou em rebater as declarações dos vereadores. Primeiro a Secretaria Municipal de Educação publicou uma nota, alegando que o documento era “apenas um informativo, que replicou o que determina a legislação federal sobre o respeito à diversidade religiosa”. A nota dizia ainda que a pasta segue comprometida “com uma gestão que valoriza a fé, promove a harmonia e fortalece o respeito entre todos os cidadãos”.
A nota acompanhou um post com vídeos da secretária de Educação, Suelene Marcondes, e dois diretores da rede municipal, afirmando que não houve mudança nas práticas pedagógicas das escolas, mantendo-se o respeito à laicidade e diversidade religiosa, mas que o nome de Jesus Cristo jamais foi negado nas escolas.
“Reafirmamos com toda a clareza: em nossas escolas nunca foi e jamais será proibido mencionar o nome de Jesus Cristo. Repito, nunca foi e jamais será proibido mencionar o nome de Jesus Cristo em nossas escolas”, afirmou em vídeo a secretária da pasta.
Já ao longo da tarde foi a vez do prefeito Cel. Dimas (Republicanos) e o vice-prefeito Igor Tavares (PSD) se manifestarem nas redes sociais. Eles reforçaram que não há proibição para mencionar o nome de Jesus nas escolas e que o documento divulgado não teria sido revisado e que não seria oficial. Eles ainda criticaram “políticos e assessores inescrupulosos” que estariam “aproveitando o momento para (…) propagar a crucificação” da servidora que que teria produzido o documento de forma errônea.
“Nós vivemos o momento da Páscoa, momento máximo, onde Cristo se entregou por nós na cruz. É o momento da gente refletir sobre paz, sobre amor e respeito ao próximo e nós estamos vendo que algumas pessoas não estão seguindo esses os de Jesus”, discorreu também em tom religioso o prefeito Coronel Dimas.
Com o assunto ainda rendendo, as falas de prefeito e vice já geraram tréplicas nas redes sociais. Sim, é cansativo!
Sobre o autor: Adevanir Vaz é jornalista e editor do R24.
Os artigos publicados em ‘Opinião’ e ‘Colunas’ não refletem, necessariamente, o ponto de vista do Rede Moinho 24.
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