Mary Helen foi presa ao lado de outro brasileiro no país do sudeste asiático com 9 quilos de cocaína. Uma das punições previstas para o crime é a pena de morte. Itamaraty diz acompanhar o caso. Em 2015, dois brasileiros foram executados por pelotão de fuzilamento pelo mesmo crime em outro país do sudeste asiático, a Indonésia
Um grupo que já reúne ao menos cinco advogados se voluntariou para ajudar a jovem moradora de Pouso Alegre, Mary Helen, de 22 anos, presa na segunda-feira, 14, no aeroporto de Bangkok, na Tailândia, por suspeita de tráfico internacional de drogas. O país prevê punições duríssimas para o crime, entre elas a pena de morte.
A prisão e a possibilidade de a jovem ser condenada à morte colocou familiares e amigos em desespero. Um grupo de advogados pouso-alegrenses se sensibilizou e tenta encontrar meios jurídicos e diplomáticos para auxiliar Mary.
Caso da jovem é delicado, ite advogada, que vê abordagem diplomática como caminho
Uma das advogadas que se voluntariou para ajudar no caso, Pablinie Costa, ite que o caso é muito delicado. Segundo ela, no momento, o caminho é tentar sensibilizar o Itamaraty, que é o órgão diplomático brasileiro, para tentar interceder pela jovem junto ao governo da Tailândia.
A abordagem diplomática acaba sendo a única saída, uma vez que o Brasil não possui tratados com a Tailândia. “Não existem tratados sobre o assunto entre o Brasil e a Tailândia. Não tendo tratados, não é possível o uso do Ministério da Justiça. Não sendo possível o Ministério da Justiça, o que resta é a via diplomática: Itamaraty”, pontua a advogada.
À imprensa o Itamaraty disse que acompanha o caso por meio de sua embaixada em Bangkok. Aos advogados, porém, o corpo diplomático brasileiro ainda não deu nenhuma posição.
Outro caminho tentado pelo grupo é contatar um advogado da Tailândia, a fim de montar sua defesa a partir do solo asiático, o que poderia melhorar suas chances.
A advogada esclarece que o objetivo do grupo de advogados formado em Pouso Alegre é auxiliar juridicamente, mas não seria possível para eles representar a jovem formalmente no momento, devido à alta carga burocrática para consumar a representação em um outro país.
Integram o grupo de apoio os seguintes advogados: Pablinie Costa, Talita Leonidia Aparecida Franco, Rafaele Maria Dias Faria, Kaelly Cavoli Moreira da Silva e Rovilson Carvalho.
Sudeste asiático aposta em penas duras contra o tráfico
Apesar de ferrenhas críticas de órgãos internacionais de direitos humanos e mesmo da comunidade internacional terem se intensificado nos últimos anos, países do sudeste asiático seguem com a pena de morte e mesmo a prisão perpétua para coibir a entrada de entorpecentes em seus países. Além da crítica à severidade das penas e sua desproporção, a pouca eficácia da medida engrossa os protestos globais.
De acordo com a Rádio França Internacional, dos dez membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), oito ainda aplicam a pena de morte por posse e tráfico de drogas. Além da Tailândia, entre eles está a Indonésia, que, em 2015, executou dois brasileiros em pelotões de fuzilamento como punição por terem entrado no país com drogas. Marco Archer, de 53 anos, foi executado em janeiro daquele ano e Rodrigo Gularte, de 42, em abril.
Marco Archer era instrutor de voo e tentou entrar no país com 13 quilos de cocaína escondidos nos tubos de uma asa delta. Já Rodrigo Gularte tentou entrar com 6 quilos, também de cocaína, em sua prancha de surfe. As execuções geraram uma crise diplomática. A então presidente Dilma Rousseff chegou a convocar o embaixador brasileiro na Indonésia para consultas, o que em diplomacia equivale a um gesto de grande contrariedade de uma das partes.
Mary e brasileiro de 27 anos tentaram entrar na Tailândia com 9 quilos de cocaína
A julgar pelo histórico dos brasileiros executados na Indonésia, a situação da jovem pouso-alegrense é realmente grave. Ela e um outro brasileiro foram presos com 9 quilos de cocaína, encontrada por funcionários do aeroporto de Bangkok em um compartimento oculto das três malas que a dupla transportava.
Mary e o homem de 27 anos partiram do aeroporto de Curitiba (PR) e desembarcaram em Bangkok por volta das 7h do dia 14 de janeiro. Poucas horas depois, as autoridades tailandesas prenderam mais um brasileiro tentando entrar com cocaína no país. Desta vez se tratava de um jovem de 24 anos, morador de Apucarana, no norte do Paraná. Ele portava 6,5 quilos da droga.
Embora não soubessem afirmar se os três se conheciam, as autoridades tailandesas divulgaram o total de drogas apreendidas com os três, 15,5 quilos, e seu valor aproximado de mercado, R$ 7,5 milhões.
Família não sabia da viagem de Mary. Irmã acredita que ela pode ter sido enganada
O R24 falou com amigos e familiares de Mary neste domingo. Eles disseram à reportagem que Mary “é uma menina muito sofrida. Muito guerreira”. Eles ainda tentam entender como ela foi se envolver nessa situação.
Em Pouso Alegre, segundo uma amiga de Mary, ela fazia de tudo um pouco, mas, nos últimos tempos, havia atuado principalmente como chapeira em lanchonetes da cidade. Atualmente, de acordo com a família, ela trabalhava em um restaurante da cidade.
Mariana Coelho, de 27 anos, irmã mais velha de Mary, disse ao R24 que não sabia da viagem para a Tailândia, sabia apenas que ela iria para Curitiba. Ela soube da prisão de Mary na madrugada de domingo para segunda-feira, quando recebeu fotos de Mary já presa.
Ainda segundo ela, a família nunca teve notícia sobre o envolvimento de Mary com o tráfico de drogas. Para ela, uma das hipóteses é que a jovem possa ter sido enganada.

Mary Helen trabalhava em um restaurante de Pouso Alegre | Foto: reprodução de redes sociais
Execuções na Tailândia
A última execução de pena de morte com repercussão internacional na Tailândia ocorreu em junho de 2018, quando as autoridades locais executaram Theerasak Longji, de 26 anos, por ter assassinado um adolescente para roubar seu celular.
Aquela fora a primeira execução no país desde agosto de 2009, quando a pena capital foi aplicada a dois narcotraficantes. Ao contrário da Indonésia, a Tailândia abandonou o método de execução por fuzilamento. Ele foi substituído pela injeção letal.
Até 2018, o país já havia executado 326 pessoas punidas com a pena de morte desde sua inserção no ordenamento jurídico do país, em 1930.
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